segunda-feira, fevereiro 13, 2023

Aparentemente, o fim

Desconheço como seja para os demais, ainda que aposte que é muito menor escala.

Sempre fui objecto de dislates, comentários, conselhos e até ordens.

- Estás gordo.

- Está magro (esta, confesso, tem anos)

- Quando é que cortas o cabelo?

- Quando é que deixas de fumar?

- Quando é que arranjas namorada?

- Quando é que vais estudar?

- Quando é que tens isso pronto.

A lista era maior, mas cortei-a para efeitos de concisão.

Coincidentemente, quem mais gostava de me fazer perguntas como as supra mencionadas era também quem achava que eu era "susceptível".

A razão pela qual introduzi o presente texto com as linhas com o qual começou deverá ser mais psiquiátrica do que propriamente auxiliativa à percepção do que aqui vai sendo escrito.

E o que vai ser aqui escrito é algo que me tirou uma noite de sono, ainda ontem.

Morreu uma amizade.

Não uma amiga, mas uma amizade.

Uma amizade de décadas da qual, ainda assim, recordo o seu início. Recordo o que foi o seu desenvolvimento. Sei porque chegou ao fim. 

Perdi muitas amizade ao longo dos anos. A sapiência da minha mãe sempre apontou as causas: "tu exiges demais das pessoas".

Maybe so.

Talvez seja o meu carácter de ermita. O gosto que tenho pelo silêncio da solidão. Ao contrário da maioria dos idosos, nunca me assustou ficar sozinho. 

Mas neste caso, não foi por aí.

Esqueci-me do que me fazia ser amigo dela. Era prestável? Não. Ajudou-me em momentos que precisei? Não. Conhecia-me? Não. Respeitava-me? Não. Respeitava quem estava à minha volta? Não. Solicitou a minha ajuda? Sim. Ajudei? Sim. Precisou de mim? Sim. Alguma vez agradeceu? Não.

O culminar de tudo foi associar-me a uma caricatura, a um ser perfeitamente detestável. Rematou tudo chamando-me pelo meu apelido, coisa que nunca na vida fez, pelo menos à minha frente.

Terá sido a pandemia e o que nela dissemos que terá provocado a distância, que terá cavado o fosso.

Terá sido a vida e as experiências que ela proporciona.

Terei sido eu e a minha mania de querer algo dos meus amigos, como seja respeito, capacidade de me ouvirem sem criticar, não ser reduzido.

Bom, mas a vida segue.

Acho que atingi uma idade em que não vale a pena fazer disto grande cavalo de batalha. Não vale a pena confrontar a pessoa. Isto, por uma razão simples: não quero provocar reforma no comportamento, quero mesmo distância, o fim daquilo na minha existência.

Também não vale a pena provocar um sismo. Há amigos comuns que quero que se mantenham e não se vejam forçados a tomar conhecimento do que penso, muito menos tenham que tomar lados.

Um dos grandes humoristas deste tempo terá dito qualquer coisa como: a morte é muito parecida à estupidez, uma vez que tem efeitos nos outros. O morto não tem consciência da morte e o estúpido idem.

Sendo a morte, aqui, metafórica, "estúpido" e "morto" coincidem. Pela minha parte, não há necessidade de que percebam este meu estado.

Para isso serve este texto.

 

 



terça-feira, dezembro 06, 2022

Há bocado

Típica manhã de Dezembro, no início de Dezembro. Ainda escrevo os meses com letra maiúscula.

No carro, aquela réstia de humidade que cobre as janelas. Estava a limpá-las.

"Perdoe-me a ousadia, mas vai para o Laranjeiro?"

Exibia-se um ser humano maior que eu, de voz grossa e vivida, vestido como podia e com um braço ao peito. Olhei-o.

"Por acaso, hoje não. Vou para Almada, centro sul"

Cogitou. 

"Deixe estar, obrigado"

Insisti

"Mas não quer que o deixe em Almada?"

"Centro sul? Sim, se calhar ainda consigo ir de metro, não sei é se terei dinheiro para o bilhete."

"Entre."

Apresentou-se. Era Engenheiro de comunicações

"Fui Colega do Guterres e do Mister da Selecção".

Explicou-me o Curriculum. 

"Trabalhei 16 anos na Inglaterra, era Engenheiro lá. Depois, tive uma doença rara, dois AVC e não me consegui levantar. Hoje, sou sem-abrigo por causa da filha da puta da minha irmã."

Ainda começou a introduzir o tópico "filha da puta da minha irmã", mas estava mais engajado no caminho que tinha tido antes.

"Fui a muitos médicos e só um me diagnosticou. Cá, em Portugal, já estive internado sem falar e sem ver".

O cenário era negro.

"Agora, dei uma queda, filha da puta".

Começámos a chegar ao destino. 

"Agora, vou para Cuba, casar-me com uma Cubana. É tal qual a Naomi Campbell. Se olhar para mim, veja lá se não sou tal qual o Morgan Freeman? Em Inglaterra, tenho histórias destas fabulosas."

Parámos, perguntou-me o nome, disse. 

"Não me vou esquecer de si".

Não me importava nada de ter ido beber um copo com aquele homem.


quinta-feira, setembro 15, 2022

O Segundo Dia

 ...Porque, no primeiro, não me coube a tarefa.

Desço a escada e, como se Deus existisse e a sua única missão fosse punir-me porque Nele não creio, abate-se uma monumental carga de água com uma pressão que só podia desejar que existisse no meu chuveiro domiciliar.

Sem casaco, sem chapéu de chuva, a muito custo tento acomodá-lo no carro e protegê-lo na intempérie. Sendo bem sucedido, não deixo de emitir um sonoro berro por razões fúteis, como é ter acabado de "desfrutar" de um novo duche.

O caminho faz-se sem sobressaltos. Uns quantos automóveis mas nada que obste ao percurso mais ou menos célere. Esperar por mais é ter a vã esperança que o trânsito está sujeito às regras de qualquer doutrina Marxista.

Ao chegar, o espírito dele está inquebrável. Bem disposto, brincalhão, tudo o que sempre foi e é.

Encaminho-o para o portão, onde é recebido por uma simpática funcionária. Mais meninos o acompanham.

Foi aqui que me perdi.

O volume de transeuntes impede-me de ficar naquele portão. Havia que dar lugar aos demais, iguais em direitos, para que tivessem o mesmo destino no meu.

Um pouco mais à frente, por uma nesga das grades que separam o estabelecimento da rua, vejo-o. Olhava para os lados, seguindo um carreiro que julgava ser o seu (e quem sabe seria) até à sala de aula.

Voltei a perder-me.

Aquele olhar em volta diminuiu-me. Encheu-me de problematizações, conjeturas, enfim, de uma tristeza que só me lembro de sentir em fases más da vida.

A verdade é que, com o passar dos anos, vejo ali muito de mim, verdadeiramente, uma parte de mim. Mas não uma parte qualquer: trata-se da melhor parte. O que gostaria de ter sido. 

Não me chegam os "vai correr bem", "todas as crianças andaram na escola" ou "todos os pais passam por isso".

De forma franca o escrevo: não me interessa.

Vejo a vida a correr, sempre com a pressa da existência e constato que a história me ultrapassa, sem que tenha hipótese de fazer mais por ele. O sentimento de fracasso é-me inevitável. 

Olhando para o lado, o sol está a tentar romper por um par de nuvens. Metáfora?

Obviamente que não.

quinta-feira, março 31, 2022

Escrito previamente não era melhor

quarta-feira, janeiro 26, 2022

A Sophie Ellis-Bextor ainda existe!

sexta-feira, janeiro 21, 2022

No caminho para uma noite complicada

"Costa está a governar para a história". 

A frase é de um comentador conhecido. É pesquisar. Foi dita poucos meses após o decreto de estado de emergência.

Durante um tempo, não acreditei. Contudo, o caminho que vamos seguindo, enquanto comunidade consumidora de opinião e meios de informação, começa a dar razão ao supra citado dito. Em conversa com velhos conhecidos, noto bastante resistência à imagem de António Costa. Em círculos mais alargados, posso ter testemunhado ódio.
 
Por seu lado, António Costa tem trilhado um caminho sinuoso, ora entre o arrogante e bonacheirão, entre o negociador e o obstinado. Dele se diz que está cansado. Que não serve. Que quer sair. Olho para o lado e não vejo quem desminta, quem critique isto, quem defenda o (agora) candidato.
 
É, portanto, para mim surpreendente que as sondagens lhe cheguem a dar o que dão. Porque não refletem o que vejo, o que leio. Não conheço 10 pessoas que votem no Partido Socialista. 

É para mim evidente que Rui Rio ganhará o país. Será Primeiro Ministro.

Como é tristemente visível no que deu o chumbo do orçamento.
 
 

terça-feira, maio 18, 2021

E por que razão postei eu isto aqui. Uma resposta sonica